O que pensar
de uma cadeia logística que devia fazer os produtos chegarem aos consumidores
finais com rapidez e baixo custo e faz exatamente o contrário?
Aprendi na
faculdade que na teoria, tudo funciona com rapidez, presteza, uso massivo de
tecnologia e baixo custo. Esta é a teoria. A prática é exatamente a oposta. A
carência de infraestrutura e planejamento é tal que provoca perdas
desnecessárias de tempo entre as etapas do processo e gera toda a sorte de
prejuízos.
No mundo
perfeito da academia, um caminhão encosta numa doca, é descarregado, a nota
fiscal é adequadamente conferida, a carga é desmembrada, fazem-se outros lotes
com outros itens que já se encontram à disposição, pois foram trazidos por outros
caminhões; são confeccionadas novas notas fiscais e estes novos lotes menores
são colocados em veículos menores, através dos quais será feita a distribuição
nos centros urbanos. Resumidamente, o processo é este. Todo este processo
ocorre em um tempo que tende a ser bastante curto, que eu estimo em uma hora
por absoluta falta de metodologia científica que me permita determinar um tempo
ideal com um grau de certeza aceitável. Na prática, tenho relatos de que a
descarga ocorre em uma semana, a conferência da nota e da carga despende outro
tanto de tempo, assim como a descarga propriamente dita, outra semana se passa
até que se saiba da existência de outra carga e o destino da mesma, outros
tantos dias se perdem até a tal carga ser acomodada no caminhão, mais seis dias
se passam até a nota fiscal ficar pronta (enquanto isso, o caminhão serve de
storage e tem os componentes da suspensão e os pneus desgastados desnecessariamente).
E finalmente o pobre do motorista consegue partir depois de uma tremenda via
crucis que pode durar 20 dias ou mais. Como vemos, a viagem é quase sempre a
parte rápida e eficiente do processo, por mais longa que seja.
Se o veículo
for de transportadora, este prejuízo (financeiro e temporal) já está embutido
no preço do frete. Mas e quando o caminhão é do autônomo, que muitas vezes
compra o veículo financiado a perder de vista e tem que arcar com pesadas
prestações, combustível, manutenção, impostos e taxas de todo tipo e se
conseguir, ainda tirar algum lucro? Quem arca com o prejuízo de tanto tempo
parado? Quem arca com o desgaste das molas, amortecedores e pneus, que mesmo
com o veículo parado, sofrem desgaste acentuado e desnecessário? Este
profissional quase nunca consegue barganhar o melhor frete e a melhor carga. O
que ele consegue, via de regra é pegar uma carga. Boa ou ruim, dê-se por
satisfeito.
Aprendi na
faculdade (e espero ter aprendido certo) que caminhão parado é prejuízo certo.
Quanta carga este veículo deixou de transportar? Que retorno financeiro (que
pode ser traduzido por lucro) o veículo deixou de dar? Será que na outra ponta
não há ninguém esperando por uma mercadoria que pode num limite extremo, parar
uma linha de montagem? De que adianta um veículo potente, capaz de desenvolver
excelentes médias horárias (alguns são quase capazes de transformar subidas em
planos, com perda mínima de velocidade), modernos, econômicos e (porque não)
bonitos se toda essa produtividade é perdida num centro de distribuição ou na
doca de uma empresa com processo logístico menos eficiente? Eu acredito que
tamanho descaso só terá fim se o motorista (neste caso, o autônomo) for
remunerado pela hora parada e não apenas pelo quilômetro percorrido.
Chegam-me
também muitos relatos de fretes baixos. Há quem receba em média R$ 2,30 por km
e que com tal preço, sequer é possível custear o combustível, que dirá
remunerar o investimento realizado na aquisição do veículo e arcar com as
prestações e manutenção do mesmo. Começamos então a entender porque a idade
média da frota dos autônomos é tão alta (estimada em 30 anos, quando a das
empresas é estimada em 2 anos nas maiores) e o frete precisa necessariamente
ser caro. Por serem veículos de idade média elevada, a manutenção é mais
frequente, mais pesada e mais cara. E muitos proprietários mal dão conta de manter
os seus veículos em condições de trafegabilidade e segurança.
Mas a questão
do frete baixo talvez se resolva com certa facilidade. É só repassar o aumento
para o consumidor final. Mas quem está no meio da cadeia (o atacadista e os
intermediários que proliferam como pragas) vão querer arcar com este custo a
mais? E qual será o impacto na inflação deste custo a mais? Colocamos em cena
então o Governo Federal, que promete toda a sorte de obras de infraestrutura
(de longo tempo de realização e maturação, é verdade) e não faz tais obras
saírem do papel. São obras que não deveriam se resumir a um mandato, e sim a
uma década, com dois ou três governantes sucessivos trabalhando diuturnamente
na execução de tais obras tidas como vitais para a logística do Brasil.
Claro que uma
empresa com um processo logístico minimamente organizado fez o planejamento de
estoque considerando tais variáveis (e tantas outras mais, até de ordem
meteorológica). Algumas chegam ao requinte de colocar até um engarrafamento
inesperado no planejamento e ter mais de um trajeto definido para mitigar tais eventualidades
que causam atraso e transtorno e conseguem dimensionar um estoque de segurança
capaz de suportar tais eventualidades. Assim, conseguem dimensionar um tamanho
de LEC (Lote Econômico de Compras) e um estoque de segurança adequado,
principalmente nos chamados materiais Classe A (normalmente itens caros e
fundamentais no processo produtivo, seja ele qual for).
Mas voltando
ao motorista que passou quase um mês longe de casa, como será que ele se sente
num centro de distribuição ou numa empresa sem infraestrutura que compreenda um
refeitório, um lugar adequado para a higiene pessoal ou uma área de lazer para
ocupar tanto tempo ocioso? Creio ser consenso que a classe dos motoristas
rodoviários é desvalorizada e merece um pouco mais de respeito. Mas a
desvalorização e o desrespeito começam nas empresas com seus processos internos
ineficientes, mal planejados, pouco profissionais e muitas vezes, com custos
mais elevados do que o necessário.
Mas tal
atitude de desrespeito com o profissional e o amadorismo nos controles dos
processos logísticos são coisas que não se mudam da noite para o dia. Antes da
mudança propriamente dita, há que se mudar a mentalidade dos envolvidos e a
empresa precisa passar por um processo profundo (e muitas vezes traumático) de
mudança de cultura organizacional que pode levar um tempo considerável. Mas é
um processo que uma vez iniciado, não pode ser interrompido e talvez jamais
seja concluído. Exige que todos os envolvidos se conscientizem de que algo
precisa ser feito. Caso contrário, os
concorrentes (que possuem processos mais enxutos e ágeis, que se traduzem em
custos menores até para os clientes) tomarão a fatia de mercado da empresa em
questão e, no limite extremo, esta empresa pode até entrar em sérias dificuldades
financeiras.
Adelmo Filho
Formado em Administração de empresas
pelo Centro Universitário da Cidade
Parabéns Sr. Adelmo Filho, que seus conhecimentos venham agregar um futuro melhor para o sistema da logística e transporte do mundo, abraço, Marcelo Apparatus.
ResponderExcluirObrigado, meu caro Marcelo Luis Winsecki! rs
ResponderExcluirmuito bom sinal que aprendeu bem
ResponderExcluirParabéns!!!!!!!!!
ResponderExcluirPARABENS PELO BLOG ADELMO
ResponderExcluirVamos falar a verdade, e mostrar o que está errado por escusos motivos. Este é o caminho.
ResponderExcluirmuito bom..,....
ResponderExcluirInfelizmente essa profissão está denegrindo consideravelmente a cada dia que se passa!
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